sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Soneto do Desmantelo Azul




Então pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas;
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas.

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.

Carlos Pena Filho

(imagem google)

Um comentário:

Fá menor disse...

Lindíssimo poema. Não conhecia. Gostei muito.

Beijinhos.