domingo, 22 de dezembro de 2024

Poema de Natal



Mulheres atarefadas
Tratam do bacalhau,
Do peru, das rabanadas.
Não esqueças o colorau,
O azeite e o bolo-rei!
Está bem, eu sei!
E as garrafas de vinho?
Já vão a caminho!
Oh mãe, estou pr'a ver
Que prendas vou ter.
Que prendas terei?
- Não sei, não sei...
Num qualquer lado,
Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino
Murmura baixinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza.
Tilintam copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.
Lá fora tão frio,
Cá dentro tão quente!

Algures esquecido,
Ouve-se Jesus dorido:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

Rasgam-se embrulhos,
Admiram-se as prendas,
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papeis
Sem regras nem leis.
E Cristo Menino
A fazer beicinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.
A noite vai terminar
E o Menino, quase a chorar:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive teto nem afeto!
Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:
- Foi este o Natal de Jesus?!!!

 João Coelho dos Santos

 in Lágrima do Mar - 1996

*

Gente boa, do meu Parapeito, deixo-vos aqui este poema, que a minha tia Adosinda, uma alma generosa que tenta fazer viver o espírito do Natal durante os 365 dias, me enviou.
Dá que pensar, se houver tempo, neste tempo de euforia e consumismo exarcebado.
Eu ainda sou do tempo do sapatinho na chaminé e de, no dia 25, acordar e ir ver o que o menino Jesus me tinha deixado (nunca era o que eu desejava, mas o que precisava).
Hoje tenho outra maneira de encarar esta época.
Para mim, Natal, é quando estou rodeada daqueles que me aconchegam a alma e o melhor presente, é estarem presentes, felizes e de boa vontade.
Que cada um viva o Natal como melhor entender.
Que tenham dias serenos, cheios de brisas doces, daquelas que adoçam o sorriso e enchem a alma.

Abraço para todos**

E pelo mundo, neste momento, tantas pessoas a dizer "então e eu?"**

maria loBos

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Nas Nuvens




Sempre gostei de nuvens.

Em pequenita não me cansava de olhar o céu, a minha mãe dizia que era por isso que eu tinha os olhos tão azuis, mas eu o que gostava mesmo era de imaginar o que escondiam as nuvens.

E assim, ficava durante grandes momentos, até ouvir a minha mãe dizer: 

"Lá estás tu com a cabeça nas nuvens", sem nunca perceber as histórias que eu inventava.

Hoje continuo a olhar para o céu, a gostar de nuvens, e a imaginar- será que os meus olhos devem a cor ao céu?


maria loBos

2004

*

Agora com os meus 64 anos, ainda não perdi o "vício" de olhar para o céu, se bem que já não seja para inventar histórias.

Hoje é mais um escape, para aliviar os meus olhos de tanto e tanto que vejo e preferia não ver.

Abraço e brisas doces ****

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Outros Sentires

Fotografia: Teresa Bonito
Blog: https://linhasdepensamento.blogspot.com/


Não sei se as decisões se tomam por dias de calendário.

Talvez por impulso, cobardia, rasgos de raiva,  sei lá...

Pela primeira vez, estou sentada, pasmada, na perfeita indecisão.

Levo comigo coisas de afeição, deixo outras tantas...

Entre as que levo e deixo, um encolher de ombros é tão pouco.

Naquele meu lugar de tudo ser, onde orar é acto de fé, sem terço de mão ou oração entoada, preciso Ser. 

Mas deixo um anel feito de entrançadas linhas, suaves veios, um compromisso d'alma. 

E rodo o anel... 

Bem Maior.


Mkotinha

( Memória/2016) 


**

Deixo aqui um poema, de Nazaré Reis (MKotinha). 

Alguém que "conheço" faz muitos anos, no Facebook.

Sempre gostei dos seus sentires. 

Hoje é para ela um dia triste, pois perdeu uma grande amiga, uma grande poeta, Cecília Barreira.


Abraço e brisas doces


maria loBos


quinta-feira, 25 de julho de 2024

Momentos


Algumas pessoas, acham que não devemos voltar, onde já fomos felizes.
Até posso, na teoria, perceber a premissa.
Na prática, nem tanto.
Para mim, não é voltar, mas sim reencontrar todos os sítios, que nos ficaram, casa no coração.




" De todas essas pedras, de todas, uma só, onde passa o vento, escolho para meu uso e alegria "

De Perfil, Eugénio de Andrade

*

Estas penedas que acariciam ou atormentam a água do rio Ceira, foram local de acolhimento e alegria nos meus dias de menina.
Também elas mudaram com o tempo, mais gastas, mais polidas, mas sem perderem a sua essência.
Neste dia receberam a minha neta Alice e quem sabe, lembraram-se de mim.







*

Rio que canta e encanta

Desejosa de voltar.
Abraço e brisas doces.

maria loBos

*(O maridU, a fazer por melhorar)


quinta-feira, 20 de junho de 2024

Preciso

Apesar do caminho ser a direito, os meus passos são incertos.
Preciso encontrar um desvio, um atalho, que me surpreenda sem sobressaltos.
Onde o vento me espere para ser companhia, e a terra coberta de flores amarelas como o sol seja o bálsamo para os meus pés.
Por pouco tempo que seja, preciso de encontrar um desvio, um atalho, só para me ir buscar.

maria loBos

A recuperação do marido continua lenta. Obrigada pelas vossas mensagens, vou começar a passar pelos vossos cantinhos.

Abraço e brisas doces***

terça-feira, 7 de maio de 2024

Brisas doces*

 Venho deixar um abraço e agradecer a todos que se têm preocupado com o estado de saúde do meu marido.

A recuperação vai demorar, um dia a seguir ao outro, uns melhores, outros piores, mas tem de ser.

Deixo-vos um miminho que me foi enviado, faz anos, por um amigo muito querido (Eduardo Aleixo) que já partiu em direcção à luz.




Espero que gostem :)

A todas as mães que por aqui passaram, que tenham tido um feliz dia da Mãe.


Brisas doces***

maria loBos

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Até mais logo

"Eu seiQue a vida tem pressaQue tudo aconteçaSem que a gente peçaEu sei.
Eu seiQue o tempo não páraO tempo é coisa raraE a gente só reparaQuando ele já passou"
( Mariza, o tempo não pára)

Deixo-vos aqui um pouquinho da letra, deste fado que gosto muito.
Por motivos de saúde do meu marido, vai ter de fazer uma intervenção cirúrgica ao coração, vou estar ausente por uns tempos.
Deixo brisas doces para todos.
Cuidem-se.**

terça-feira, 2 de abril de 2024

Nas ondas da tua língua

 ...Das falésias do


teu desejo

Me lanço doida no mar dos teus beijos.
E feliz me afundo docemente
nas ondas da tua língua...

maria loBos

Deixo aqui este recado, que já escrevi faz anos.
É para uma amiga muito "doida" que nos seus 70 anos, se voltou apaixonar.
Costuma andar por aqui "escondida" e sei que este é um dos seus preferidos.
Como ela diz : Ainda é muito cedo, para ser tarde demais.
Minha querida B* sê muito doida*
Brisas doces **

domingo, 17 de março de 2024

Outros Sentires

 

Na Faixa de Gaza, entre Outubro e final de Fevereiro morreram, pelo menos, 12.300 CRIANÇAS.

"Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos. Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão", José Saramago- Ensaio sobre a cegueira

"Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu fizeram-no de carne e sangra todo o dia", José Saramago- A segunda vida de Francisco de Assis

Deixo abraço e brisas doces*




sexta-feira, 1 de março de 2024

Janela


Meu coração é um pássaro.

Todos os dias voo em direcção à tua janela.

Mas tu partiste.

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A tarde está dourada, a minha alma serena

Da minha janela, olho para a tua agora fechada.

Vai longe o tempo, em que todas as tardes a abrias para acenares e sorrires,

As estações  passam e o mundo sem esperar se veste de novo e as lembranças,

contra minha vontade, começam a perder o viço.

Tento adivinhar o silêncio guardado entre as paredes 

que seguram a janela que foi tantas vezes primavera.

Tu partiste, mas eu teimo em acreditar que está próximo o dia 

em que a tua janela se vai abrir e deixar sair todos os segredos enterrados na poeira do silêncio.

Quero tanto que as tardes voltem a ser douradas, na certeza que no final do inverno, vem a primavera

colorindo tudo e tu, da tua janela,

voltas a sorrir e ser sol.


A janela continua fechada.


Abraço e brisas doces **

maria loBos